This is one of the pieces I wrote for an anthology of short stories and poetry organized by my good friend João Pedro Amorim, titled “EXPERIÊNCIA INÁCIO”, only available in portuguese:
O ano terrestre era 2024 após o nascimento do judeu-palestiniano crucificado. Dos vários ilusionistas na história do planeta, este ainda era dos mais adorados pela elite memética da sociedade com o mais extenso fenótipo externo daquele sistema estrelar. Num apanágio de curiosidade turística, vá, para metermos nos nossos termos, 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 decide visitar, um calhau que os astrónomos da sua civilização chamaram de… ou melhor, que se pode traduzir à letra na nossa língua como, SOL-3 Água. Nós por cá, ironicamente chamamos-lhe Terra. Porque fazemos tudo para viver em ilusões e dar especial ênfase ao que temos em drástica falta. Os da espécie de 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 eram benevolentes e nunca escravizaram ou utilizaram outras espécies para puro entretenimento. Quando nos viu, pelo contrário, 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 ficou atónito com o facto de termos populado todo o planeta com autómatos, impressoras-3D biomecânicas que se replicavam ad infinitum a elas próprias e criavam como subproduto uma atmosfera rica em oxigénio, ideal para os quatromana bípedes. Chegou mesmo a pensar para si: “afinal, há tanto que podemos aprender com eles”. Convém aqui, divagar um pouco, para explicar estes ridículos seres que 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 via agora sob um prisma de admiração. Para um estudioso do cosmos como 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑, eles eram uma tendência evolutiva à primeira vista paradoxal, porém comum, com triliões de manifestações pelo universo. Estes quatromana com adaptações nos membros traseiros para locomoção erecta são pestes em vários astrossistemas e tornam-se facilmente a espécie dominante à escala planetária, mas raramente à escala de sistema estrelar e nunca à escala galáctica. Todavia, vamos ignorá-los por completo, visto que nas grandes questões de sizígias fractais, estes seres são sempre irrelevantes em qualquer fenómeno ou processo do espaçotempo. Alguns dias após ter aterrado, numa examinação mais próxima, 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 finalmente se apercebeu que as incríveis impressoras-3D de todos os tamanhos e feitios que ele julgava terem sido construídas pelos toscos quatromana bípedes de SOL-3 Água eram afinal organismos que tinham evoluído independentemente de todos os locomata autónomos numa linhagem paralela de nonlocomata. Uma das aparições mais raras no cosmos, uma que 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 nunca tinha observado, mas tinha dedicado incontáveis milénios nos seus arquivos a ler sobre eles. Na nossa língua chamamos a estes seres, plantas. 𒀭𒊹𒆕𒌉𒍑 sabia que, acima de tudo, plantas eram de evitar. Aliás o estado de emergência intergaláctico, declarado e imposto numa forma de meta-constituição inter-espécies há vários éons pelos seus antepassados, impossibilitava navegação em galáxias com organismos deste tipo. As plantas eram uma tendência evolutiva, sob todos os ângulos, inexplicável—uma raridade, com manifestações pelo universo que se podem contar pelos dedos da mão de um quatromana bípede. Estas plantas tendem rapidamente a submeter, por várias formas de parasitismo co-evolutivo e controlo feromonal de consciência, todos os seres vivos do seu astro em escravos simbióticos. Numa infinita sedução, forçam um selecto grupo dos locomata (que adquirem vasta vantagem evolutiva relativamente aos outros locomata) em seus aliados, oferecendo-lhes em troca vários subprodutos sacarídeos, vulgo frutas, e reparação contínua da atmosfera planetária. Usando esta estratégia maquiavélica, sempre que nonlocomata surgem num astrossistema, tornam-se facilmente a espécie dominante à escala galáctica. Esta é a sua história.
— Pedro Petrus “pᴼᴸᴸᴵᴱdro”, o Pedra-Calhau